Agradeço a Dalton Trevisan e Nelson Rodrigues. Dois cavalheiros inesquecíveis.Obrigada.
Calorão, sol desabando por cima de todo mundo, toca cambada pro clube se refrescar. Ciço Léo, anos depois, ainda não conseguia descrever o que sentiu ao ver Glorinha em um biquininho zombeteira sob o sol, nem sabia que ali era o começo do seu fim.
Com suingue de pernas e quadris o malandro não se aperta, bota uma cara de lobo e mais uma vez foca o começo das pernas da menina. Molecadinha coloca os olhos desse tamanho pro nêgo e Renato sente um frio na barriga ao ver o beicinho que Glorinha faz quando Ciço se aproxima, ele também já tinha sido olhado daquele jeito, Glorinha era fogo.
-Calorão heim, princesa.
-Ainda bem, que tou doida por umas marquinhas
-Não me diga e pra quê sol? Eu mesmo providencio.
-Tu é muio abusado
-E tu é muito gostosa.
Ia pelos cantos de parede para ninguém reparar, curva feita na esquina encontra Ciço fumando um cigarrinho.Nunca tinha fumado maconha, da primeira vez ficou um pouco assustada, mas agora sempre pedia.
-Tu demorou
-Demorei nada.
-Tu tá pensando que me faz otário, tu tá muito enganada.
-Deixa de papo.
-Fala direito ou te meto a mão na cara.
-Mete que duvido.
Devagar, devagarinho. O dedo fica manchado de baton. Sinto na hora a resposta da xoxotinha. Descerro os lábios, ele insinua o dedo e gira na minha língua. Só com a ponta me ponho a lamber, sou eu ou a outra safadinha lá em Recife? Todinha presa pela língua – não fosse ela, desferia vôo. Aí recolhe o dedo. Me ergue pela bunda e me beija. Sinto o pau duro na minha xoxotinha, ave santa...
- Tira a blusinha.
Desabotou afogueada, tomando cuidado para não perder nenhum botão, ele sem paciência, tentando arrancar tudo com as mãos enormes.
- Cuidado pra não estragar, mamãe briga.
- Cachorra! E ainda vem sem sutiã...que peitinho mais lindo!
- Levante a sainha, amor.(E eu? O que faço? Sim,meu senhor.)
- Fique de costas, mostre o teu rabinho.(Me viro, ergo a sainha.)
- Rebole essa bundinha.(E como empino o rabo, arisca feito eguinha nova.)
- Tire a sainha, querida. (Ela cai sem ajuda.)
- Agora bem devagar a calcinha...assim...Agora venha até aqui, não. De joelhos.
- Tem dó de mim!
- Calaboca puta, que dó!
Enfia a pica na minha xoxota úmida, ansiosa, inchada. Mordo os lábios. Que estrelinha é aquela tão linda? Eu arreganhada, sendo socada por Ciço conta a parede, lindo feito cinema. Gozo no corpo inteiro, suspensa entre o céu e a terra. Gozo elevada no ar – veja, mãe, sem as mãos!
- Sabe o que pede uma eguinha como você? É tomar bem dentro do cuzinho.
- Ah, não. Isso, não. Tudo menos...
É tarde: me vira, tapando minha boca, enquanto me parte
- Amanhã, merma hora, se atrasar já viu.
- Devagar com o andor, meu bem.
Certo dia, deu sete horas e Glorinha não apareceu, deu oito, nove e nada. Ele fantasiou desculpas, imaginou castigos. No outro dia o mesmo rojão e no outro e no outro. O nêgo pegou-se desacossoado, endoidecido. Onde andaria Maria da Glória? Descobriu-se apaixonado, obcecado. Amor não. Não admitia. Pergunta daqui e ali, descobriu assombrado que Maria da Glória havia fugido, nem os pais sabiam com quem, achavam que com algum professor do curso de inglês, porque nem bilhete ela deixara.
Do corpo da menina ele conhecia todos os pêlos, palmilhou cada recanto, o que ele não conhecia era seu gênio miraculoso, volúvel. Nunca quis saber de sua vida, queria era se atracar com ela e anos depois, quando Glorinha havia perdido o viço e se prostituía nas praias do Ceará, Ciço Léo ainda não conseguia descrever o que sentiu ao vê-la pela primeira vez.