A voz...
e tu Caetano
baixo, mas fala
um grito curto
a pé
num canto de boca
que cala
A calma
que acalma
palavra pouca
despressa
e chega
escrita a mão
e me esquece...
domingo, 21 de outubro de 2007
sábado, 20 de outubro de 2007
AURÉLIO NÃO SACA TUPI.
Augusto era professor de português, talvez, por isso, levado a sentimentalidades. Era tocante o modo como falava de toda normativa portuguesa e não fazia segredo de sua preferência por quem pronunciavam bem as palavras. Falou certa vez a um aluno:
“Agora sei o motivo de sua obesidade, é de engolir esses”. Teve que se explicar com a diretora e com a mãe do menino.
Português era sinônimo de carinho e enlevo, sentia uma fluidez inenarrável ao lecionar metacrese. Andava de romance com livros de auto-ajuda e não podia ouvir falar em palavras negativas, positivando mentalmente, atacava:
- Vocês sabem o que quer dizer “impar”? “im” mais “par”, é literalmente “não par”. (Odiava.)
Gostava mesmo era de refletir:
- Sou igual aos monossílabos tônicos, não possuo definição, mas tenho várias pronúncias. E sorria diante de frase tão filosófica.
A namorada que no começo elogiava tantos predicados, com o tempo percebeu um hiato entre os dois. Ela é cientista e num mundo de homens cheios de porquês, conhecer um com acento diferencial era um bálsamo. No entanto, Olívia começou a aborrecer-se com as correções sistemáticas de seu vocabulário, com os intermináveis monólogos sobre a dicção carioca e pior de tudo, em ser comparada com Marília de Dirceu, ora, tudo tinha limites, antes fosse Ema Bovary. Olívia deu um basta. Mandou sua verbarrogia pra casa do caralho e bateu a porta sem deixar bilhete ou definição.
Augusto ficou arrasado. Olívia era uma descarada, um falso hiato, igual a “Piauí”, um caso clássico. Se fosse trocá-la em miúdos não iria restar uma oxítona para contar história.
Começou a ir mal na escola, tornou-se cabisbaixo, tristonho e para seu espanto deu para errar até ortografia. Foi afastado com a promessa que se não melhorasse, era demissão. Foi para casa desarvorado, retirou o Aurélio do pedestal e fez um chá com as folhas, acordou num hospital com a língua preta internado por intoxicação.
Enquanto Augusto padecia de suas dores ortográficas, Olívia partiu para o Alto-xingu decidida a ganhar o prêmio Nobel de ciências. Em uma das incursões, conheceu Meinalu, um índio Tupi. Olívia sempre fora louca por novas línguas e culturas, principalmente quando elas estavam dentro de um invólucro alto, jovem e robusto, e quando Meinalu, encarnando seu xamã-tigre, aparecia nu como Deus o fez, Olívia fechava os olhos e dava graças a Tupã por não entender um “a” em Guarani.
“Agora sei o motivo de sua obesidade, é de engolir esses”. Teve que se explicar com a diretora e com a mãe do menino.
Português era sinônimo de carinho e enlevo, sentia uma fluidez inenarrável ao lecionar metacrese. Andava de romance com livros de auto-ajuda e não podia ouvir falar em palavras negativas, positivando mentalmente, atacava:
- Vocês sabem o que quer dizer “impar”? “im” mais “par”, é literalmente “não par”. (Odiava.)
Gostava mesmo era de refletir:
- Sou igual aos monossílabos tônicos, não possuo definição, mas tenho várias pronúncias. E sorria diante de frase tão filosófica.
A namorada que no começo elogiava tantos predicados, com o tempo percebeu um hiato entre os dois. Ela é cientista e num mundo de homens cheios de porquês, conhecer um com acento diferencial era um bálsamo. No entanto, Olívia começou a aborrecer-se com as correções sistemáticas de seu vocabulário, com os intermináveis monólogos sobre a dicção carioca e pior de tudo, em ser comparada com Marília de Dirceu, ora, tudo tinha limites, antes fosse Ema Bovary. Olívia deu um basta. Mandou sua verbarrogia pra casa do caralho e bateu a porta sem deixar bilhete ou definição.
Augusto ficou arrasado. Olívia era uma descarada, um falso hiato, igual a “Piauí”, um caso clássico. Se fosse trocá-la em miúdos não iria restar uma oxítona para contar história.
Começou a ir mal na escola, tornou-se cabisbaixo, tristonho e para seu espanto deu para errar até ortografia. Foi afastado com a promessa que se não melhorasse, era demissão. Foi para casa desarvorado, retirou o Aurélio do pedestal e fez um chá com as folhas, acordou num hospital com a língua preta internado por intoxicação.
Enquanto Augusto padecia de suas dores ortográficas, Olívia partiu para o Alto-xingu decidida a ganhar o prêmio Nobel de ciências. Em uma das incursões, conheceu Meinalu, um índio Tupi. Olívia sempre fora louca por novas línguas e culturas, principalmente quando elas estavam dentro de um invólucro alto, jovem e robusto, e quando Meinalu, encarnando seu xamã-tigre, aparecia nu como Deus o fez, Olívia fechava os olhos e dava graças a Tupã por não entender um “a” em Guarani.
Jogo da família
No jogo das famílias, seguranças postados nos portões de acesso ao Maracanã indagavam:
- Com licença, a acompanhante do senhor é sua esposa ou amante?
- Porquê?
- Se for sua esposa queiram dirigir-se ás cadeiras perto da área vip.
- E se for amante?
- Faça como a maioria e vá para a geral.
Nada como resguardar os costumes da família e da propriedade.
- Com licença, a acompanhante do senhor é sua esposa ou amante?
- Porquê?
- Se for sua esposa queiram dirigir-se ás cadeiras perto da área vip.
- E se for amante?
- Faça como a maioria e vá para a geral.
Nada como resguardar os costumes da família e da propriedade.
quarta-feira, 10 de outubro de 2007
Segura ele, Joe!
Na mesa do buteco ninguém acreditava. Como é? Adsso e Joe, vocês apanharam de um véi bêbo?! Conta isso direito. Há,há,há!!! Quando eu contar pra galera vai ser um arraso!
- Não é bem assim, a gente bateu. Disse Joe de cara amuada.
- O cara não era velho não, era um coroa de barba grande, até aqui ó.
- Deixa de conversa Adsso! Apanhou e pronto!Quando a gente contar...
- Rapaz foi o destino, a gente passou por esse cara e ele tava fazendo xixi no mei da rua. A gente até achou engraçado né não, Joe? Um cidadão embriagado fazendo pleno uso da via pública como bem entende.
- Aí a gente foi no Raul comer, quando tava de boa, lá vem o véi fazendo uma bagunça, pegou um paralelepípedo do tamanho da cabeça de uma jumenta e queria jogar em Ceará, se pega...
- Joga, não joga, Ceará ameaça ligar pra polícia, o véi que tava bêbo e não doido se aquietou.
- Ninguém queria briga- falava Adsso olhando o braço na tipóia- mas véi e cachaça é coisa que engana.
- Mas e aí? Quando foi que vocês começaram a apanhar?
- O negócio é que ele não dava chá, pior que o Renan Calheiros em seção secreta. Incomodando todo mundo. Eu já tava sem saco. Quando veio pra cima de mim, meti-lhe o soco!
- Foi cadeira, gente e sanduíche pra todo lado. De repente, Adsso deu um berro de gelar engradado de Bhrama! Aí a briga parou. Quando vi, ele tava segurando o braço, fiquei sem reação, cara. Perguntei: Que foi, Adsso? E ele: Desloquei o ombro.
- Há,há,há! Vocês tem noção? O cara faz Kung Fu há uns dez anos e não sabe sequer dar um murro e ainda por cima num véi! Ô garçom, traz mais uma!
Fernanda, tremenda gozadora, meteu essa:
- Eu acho que ele inventa essa história de Kung Fu pra encontrar o namorado.
- Aí vocês não acreditam, falou Joe depois de um gole, a gente foi lá pra fora ligar pra tu Zé, mas o véi veio por trás de mim e me deu uma rasteira!Caí de bunda no chão. Aí foi demais, dei-lhe um mata leão!
- Eu ficava gritando: segura ele Joe, quéu vou pegar uma corda.
- Corda, praquê?!
- Pra amarrar o cara.
Há,há,há!!!
- E ainda quando a gente tava caminhando pra encontrar Zé, ele vinha atrás, seguindo a gente e gritando.
- Dizendo o quê? Primeiro round? Pega ladrão?
- Me mate! Ande, me mate!
- Um com o braço pendurado na tipóia, o outro com os joelhos esfolados, tem certeza que vocês bateram no cara?
-É... Deus não perdoa quem mexe com a terceira idade de pileque!
- Não é bem assim, a gente bateu. Disse Joe de cara amuada.
- O cara não era velho não, era um coroa de barba grande, até aqui ó.
- Deixa de conversa Adsso! Apanhou e pronto!Quando a gente contar...
- Rapaz foi o destino, a gente passou por esse cara e ele tava fazendo xixi no mei da rua. A gente até achou engraçado né não, Joe? Um cidadão embriagado fazendo pleno uso da via pública como bem entende.
- Aí a gente foi no Raul comer, quando tava de boa, lá vem o véi fazendo uma bagunça, pegou um paralelepípedo do tamanho da cabeça de uma jumenta e queria jogar em Ceará, se pega...
- Joga, não joga, Ceará ameaça ligar pra polícia, o véi que tava bêbo e não doido se aquietou.
- Ninguém queria briga- falava Adsso olhando o braço na tipóia- mas véi e cachaça é coisa que engana.
- Mas e aí? Quando foi que vocês começaram a apanhar?
- O negócio é que ele não dava chá, pior que o Renan Calheiros em seção secreta. Incomodando todo mundo. Eu já tava sem saco. Quando veio pra cima de mim, meti-lhe o soco!
- Foi cadeira, gente e sanduíche pra todo lado. De repente, Adsso deu um berro de gelar engradado de Bhrama! Aí a briga parou. Quando vi, ele tava segurando o braço, fiquei sem reação, cara. Perguntei: Que foi, Adsso? E ele: Desloquei o ombro.
- Há,há,há! Vocês tem noção? O cara faz Kung Fu há uns dez anos e não sabe sequer dar um murro e ainda por cima num véi! Ô garçom, traz mais uma!
Fernanda, tremenda gozadora, meteu essa:
- Eu acho que ele inventa essa história de Kung Fu pra encontrar o namorado.
- Aí vocês não acreditam, falou Joe depois de um gole, a gente foi lá pra fora ligar pra tu Zé, mas o véi veio por trás de mim e me deu uma rasteira!Caí de bunda no chão. Aí foi demais, dei-lhe um mata leão!
- Eu ficava gritando: segura ele Joe, quéu vou pegar uma corda.
- Corda, praquê?!
- Pra amarrar o cara.
Há,há,há!!!
- E ainda quando a gente tava caminhando pra encontrar Zé, ele vinha atrás, seguindo a gente e gritando.
- Dizendo o quê? Primeiro round? Pega ladrão?
- Me mate! Ande, me mate!
- Um com o braço pendurado na tipóia, o outro com os joelhos esfolados, tem certeza que vocês bateram no cara?
-É... Deus não perdoa quem mexe com a terceira idade de pileque!
terça-feira, 2 de outubro de 2007
F***
Eu colecionava selos, foi a época de colecionar selos. Filatelia, filatelia, me disseram. Nunca foi nada muito fácil, pelo contrário, eu acho. Lia Dante Alighieri, a obra constituida por céu, paraíso, inferno, Dante era italiano, tinha um discípulo chamado Virgílio. Depois veio a moda de colecionar peixes nos aquários, onde era a aquarelandia, peixes de todas as espécies... Molinésia e molinésia albina, também existiam os espadas e os acará-bandeira, eram os mais bonitos peixes.
Depois veio a moda da música. Colecionar fitas k7 e cds. Raul Seixas, Elvis Presley, Bob Marley, Sepultura com Igor Cavallera lá de Minas Gerais e comprar computadores no último modelo. E depois a onda dos carros, que só os boys ditos de elite é que podiam ter. Eu tinha vontade de ter um escort em 1988, que era o carro da ford. Depois veio a onda do vídeo cassete, onde se alugavam vídeos nas locadoras... Rambo, John Travolta em Grease. Veio a moda de assistir filmes no Cine Eldorado e Plaza, hoje só existe o Cine Cariri.
Depois veio a moda de arrumar namorada e ir curtir nas festas cheirando loló, cocaína, cigarro de cravo importado, e maconha, bebendo e comprando presentes depois de uma noite de transa sexo ao vivo. Depois veio a moda de encontros com amigos, pra namorar, dançar e fazer sexo, chupeta, poesias eróticas, pegar nos peitos...
Depois com meus amigos comecei a frequentar a igreja, onde existiam os crentes que criam na bíblia, o espiritismo, a quimbanda, magia negra, satanismo. Depois veio a época de casar e ter filhos e sustentar a família...
Passei quarenta e cinco dias no hospital. Era época de fome, vinha café com leite, comida, arroz e feijão, galinha e algodão doce, a cantina, a conta na cantina, o forró com a menina morena bonita irmã de Narizola, Narizola era o maior de todos. O cigarro na noite de solidão, ninguém era de ninguém. Os médicos cuidavam da gente, o hospital é formado por uma sociedade de amigos que colocam o hospital em funcionamento e fazem reuniões para ganhar dinheiro com a entrada de pacientes, que é pago pelo governo, Inss, Sus.
Alan Poe no sebo, Dahell Hannah, Belladonna, Jinny Cam, vampiros de John Carpenter. Esforço. Fixe sua meta. O início de uma amizade com uma mulher pode virar namoro. As mulheres feias são as mais imorais na cama. Fortunecity, números seriais. Master of Quake. O grand guimore, gnose. Music club editora abril. Nostradamus.
Vou te encontrar vestida de cetim, pois sei que em algum lugar espera só por mim, pra provar o gosto estranho que eu quero, mas não desejo.
Ver filmes, escovar os dentes, limpeza no corpo com leite de rosas, cuidado para não incinerar, cigarro, álcool etílico, passar gelo nas pernas, sabonete, shampoo, as injeções deixaram marcas feias.
Simplicidade. I'am the walrus. Imagine. John Lennon. Eu sou o walrus. Another day in the life. Cd mp3 beatles. Um carro, um celular, uma casa. Ter um lar, uma família. Lembranças da infância, brincando de médico com ela na roda gigante. A menina por quem me apaixonei, eu a seguia. Foi meu primeiro amor, tinha cabelos compridos, era linda como as estrelas do céu. Creme de las faces, filme pornô. Chambi. Doutor Olavo. Hap vida, Unimed. Sus. Inss. Max, o filho de Beethoven.
Me sinto cansado.
Depois veio a moda da música. Colecionar fitas k7 e cds. Raul Seixas, Elvis Presley, Bob Marley, Sepultura com Igor Cavallera lá de Minas Gerais e comprar computadores no último modelo. E depois a onda dos carros, que só os boys ditos de elite é que podiam ter. Eu tinha vontade de ter um escort em 1988, que era o carro da ford. Depois veio a onda do vídeo cassete, onde se alugavam vídeos nas locadoras... Rambo, John Travolta em Grease. Veio a moda de assistir filmes no Cine Eldorado e Plaza, hoje só existe o Cine Cariri.
Depois veio a moda de arrumar namorada e ir curtir nas festas cheirando loló, cocaína, cigarro de cravo importado, e maconha, bebendo e comprando presentes depois de uma noite de transa sexo ao vivo. Depois veio a moda de encontros com amigos, pra namorar, dançar e fazer sexo, chupeta, poesias eróticas, pegar nos peitos...
Depois com meus amigos comecei a frequentar a igreja, onde existiam os crentes que criam na bíblia, o espiritismo, a quimbanda, magia negra, satanismo. Depois veio a época de casar e ter filhos e sustentar a família...
Passei quarenta e cinco dias no hospital. Era época de fome, vinha café com leite, comida, arroz e feijão, galinha e algodão doce, a cantina, a conta na cantina, o forró com a menina morena bonita irmã de Narizola, Narizola era o maior de todos. O cigarro na noite de solidão, ninguém era de ninguém. Os médicos cuidavam da gente, o hospital é formado por uma sociedade de amigos que colocam o hospital em funcionamento e fazem reuniões para ganhar dinheiro com a entrada de pacientes, que é pago pelo governo, Inss, Sus.
Alan Poe no sebo, Dahell Hannah, Belladonna, Jinny Cam, vampiros de John Carpenter. Esforço. Fixe sua meta. O início de uma amizade com uma mulher pode virar namoro. As mulheres feias são as mais imorais na cama. Fortunecity, números seriais. Master of Quake. O grand guimore, gnose. Music club editora abril. Nostradamus.
Vou te encontrar vestida de cetim, pois sei que em algum lugar espera só por mim, pra provar o gosto estranho que eu quero, mas não desejo.
Ver filmes, escovar os dentes, limpeza no corpo com leite de rosas, cuidado para não incinerar, cigarro, álcool etílico, passar gelo nas pernas, sabonete, shampoo, as injeções deixaram marcas feias.
Simplicidade. I'am the walrus. Imagine. John Lennon. Eu sou o walrus. Another day in the life. Cd mp3 beatles. Um carro, um celular, uma casa. Ter um lar, uma família. Lembranças da infância, brincando de médico com ela na roda gigante. A menina por quem me apaixonei, eu a seguia. Foi meu primeiro amor, tinha cabelos compridos, era linda como as estrelas do céu. Creme de las faces, filme pornô. Chambi. Doutor Olavo. Hap vida, Unimed. Sus. Inss. Max, o filho de Beethoven.
Me sinto cansado.
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