sábado, 4 de agosto de 2007

Nada sério...

Apaguem as luzes e acendam velas. Às escuras ninguém é normal. Colham as rosas do lixo, alimentem-nas em garrafas de espumante e sentem-se para o café. Às escuras tudo é permitido!
O deleite feminino, o acontecimento funesto, o decisivo acontecimento que conduz ao desenlace da tragédia, a tragicomicidade das más estrelas. Aqui o pano cai!
Perdoem-nos pelo desastre!




Cabelos, olhos, sapatos, vestuário, vocabulário. Aquela mesa de bar, aquela da repartição. O que você fala, onde fala, o quanto bebeu e com quem. A que horas acorda, para onde vai. O salário no fim do mês.
Associai a tua imagem ao papel que desempenhas ou pretende desemprenhar! Putas, santas, funcionárias federais, mulheres de senador, donas-de-casa, profissionais liberais... Abri vossos guarda-roupas, escancarai vossas dignidades, dispam-se de vós pela metade e encarnem vossa imagem diante do digníssimo público. Talvez, no máximo, a metade vos pertença, pois o resto é sempre do mundo.
Não basta ser, é preciso mais parecer ser. Tem que dar a entender ao mundo inteiro, senhoras e senhores, a sua posição tão séria e papel comprovado, carimbado e atestado em consenso social.
Há que se consumir, em horas a fio, todas as idéias e todos os padrões para absorvê-los, para estar apta a atender demandas e receber o troco e receber qualquer respeito. Não, não deveria ser assim, mas o é. De fato.
E, de repente, quando você se pega de pé, diante da própria imagem refletida, estigma de corpo e alma inteiros, portadora de cédula de identidade, título de eleitor, carteira de trabalho, munida de boletos bancários e contas a pagar, lembrando do horário de ponto do dia seguinte... É aí, justamente aí, que o mundo inteiro tem razão.

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