quinta-feira, 10 de abril de 2008

Mavi e o saxofone

"Olha! Lá vai Mavi com o saxofone!"

"Por que faz tanto barulho?"

"Ele tem fome. Fome de devorar o mundo!"

Caminha resoluto. A noite afasta os babados da saia e ele passa com os olhos
marejando estrelas. As mãos de veias roxas, acostumadas aos movimentos dos
lábios, puxam o cigarro incendiário. Os passos trôpegos acompanham o
pensamento desenfreado. A solidão não o assusta. Abre um sorriso e parte a
cidade ao meio.

"Olha! Lá vai Mavi com o saxofone!"

Na primeira bodega pede uma lapada de cana. A menina olha e faz que não vê.
Tem pernas engraçadas, pernas de tereza. Olhos marejando sexus, plexus e
nexus. É um janota de botequim bem cuidado. A solidão sempre o
acompanha, ele sorri... E parte a menina ao meio.

Olha! Lá vai Mavi carregando seu saco de poesias. Distribui seus suspiros
entre as folhas de amendoeiras. Dedos negros de asfalto. O olho vesgo da
noite admite sua passagem. É um homem com uma dor. Quando as luzes acendem
não mais o encontrarão ali. A solidão o partiu ao meio.

4 comentários:

Elandia Duarte disse...

Um saco de poesia entupido de solidão só nossa, que não dá pra dividir...
Uma solidão que existe pra não nos deixar só...

Poesia que mexe com nossas fraquezas e forças!
Poesia que atormenta e acalanta!
Poesia e só!

Cangaceira Mazelinha disse...

Lá vem Mariazinha com suas palavras desconcertantes...
Ela é assim, inspiradora em corpo e palavras.
Se é irreversível ler, imagine...
Acho que era parabéns

Mário Mariones disse...

Já passei por aqui, até história tua já continuei. E digo, imagético e visceral os ricos muros e estrelas, realmente é prosa boa, essa tua, Mariazinha.

mavi pugliesi disse...

Someone else could have lost some thing else but a poem like this could give us the feelings once again.

Kinda cangaceira, keep close!